31 agosto 2005

Carolina: Sumo na Vida

Entre esta e esta...ainda não decidi qual cantar à Carolina. Por enquanto vão as duas. Aceitam-se propostas ....

É claro que a Mana já tinha dedicado um playback à Carocas....é só ver os comentários

Frase da Semana

"(...) Acho que, no caso de Soares, o PS foi longe de mais na intenção do aumento da idade de reforma...(...)"


Autor desconhecido.

O Pai da Carolina

O pai da Carolina apareceu na minha vida assim, devagarinho.
O pai da Carolina tem muitas cores, muitas delas escondidas.
O pai da Carolina relativiza os meus problemas.
O pai da Carolina é um pai muito babado. Adormece a Carocas, embala a Carocas, fica com ela para a mãe ir às compras. Faz tudo à Carocas. É um pai babado, é definitivamente um pai galinha.
Quando o pai da Carolina resolveu aparecer na minha vida, trouxe muitas cores novas. Eu nem as conhecia, nem sabia que elas existiam.
De repente, uma ventania assolou as nossas cores. Tivemos que repensar, fazer uma nova construção pictórica. Foi difícil, mas "ninguém nos disse que a vida é fácil". E lá nos fomos aguentando, tentando pintar o melhor de cada um para dar cores diferentes à vida.
Quando menos esperávamos pintamos a COR MAIOR. Ela lá foi aparecendo...minimizou tantas dores....
Sim, porque houve dores....e ainda as há...Mas também há as pedras, tantas vezes pedidas, para se pôr em cima de assuntos. Claro que depende do tamanho das pedras e depende do tamanho dos assuntos. Há que ter cuidado ao pôr as pedras...para não nos caírem em cima....
Sempre me disseram que era assim...Mas agora, pai da Carolina, promete-me que vais ser sempre um pai assim, mas promete também que vamos voltar a pintar novas cores. Devem haver tantas ainda por descobrir.

(um dia toda a blogosfera vai saber como salvar velhinhas de incêndios na Estefânia....)

30 agosto 2005

25 de Julho de 2004 – Olá Carolina, Olá!



Estavas há já 40 semanas no bem bom da minha barriga. Sabias perfeitamente quando e a quem te mostrares: danças intermináveis que faziam o espanto de quem olhava a minha barriga enorme. Aliás toda eu enorme.
Quando engravidei, fiquei logo com cara de grávida: lábios grossos, cara inchada...e manchas em toda a cara. Não enganava ninguém, a barriga e as ancas apareceram logo a dizer estamos aqui prontas para o que der e vier.
E estavam realmente prontas para a Carolina. A mãe queria uma menina, e a tia Rita também, mas entre primas e bisavós houve apostas e promessas de anéis. O Pai dizia que lá vinha um rapaz apoiado pelo avô; o Bisavô pensava que era desta (uma filha que já lhe tinha dado duas netas....era agora, era só podia ser agora!)
Mas não, quando o médico que fez a Ecografia disse que aparentemente estava tudo bem, e que sim senhora era uma menina, a tia riu-se do pai com um ar triunfante. E o bisavô ao telefone desabafou um ora-bolas-ainda-não-é-desta. Mas ficou a saber que ias ter o nariz abatatado e arrebitado da mãe (genes transmitidos pelo bisavô).
Os dias foram passando, e tu foste crescendo....e eu também. Roupa, berço, alcofa, carrinho, fraldas, chupetas, biberons, tudo em casa estava pronto para a tua chegada.
Às 38 semanas os médicos acharam que tinham que dar uma ajuda para te lembrar que estava na hora de conhecer o que se passa cá fora.
E então lá íamos nós 2 vezes por semana para os “toques”....e depois andar muito, muito, muito. Lá andávamos nós no Centro Comercial para estarmos no ar condicionado que os dias eram muito quentes. E à noite íamos passear o Gaspar no bairro, para andarmos, andarmos, andarmos....Claro que embalavas no sono e só acordavas quando me ia deitar.
Estava previsto nasceres a 24 de Julho, e realmente às 6:45 do dia 24, lá acordaste a mãe...Tinhas furado qualquer coisa e inundei a cama. O pai nem acreditava, pensava que era a brincar. E as dores? Nada! Nadinha.
Lá fomos nós para o Hospital, avisámos a prima que tinha dado toques e feito todas as ecos. Era um sábado, a avó não tinha boleia e lá foi ela de táxi para o Hospital para ser uma das primeiras a ver-te, também a enganaste.
A mãe lá foi arranjada pelas enfermeiras, que diziam que ainda faltava. Passámos o dia inteirinho lá. Nós as duas...tu calma, calminha, já não andavas nas danças, e eu a pensar que devias ter arrependido...
Mas lá para as 8 da noite lá deram umas coisas para apressar a menina que não estava pelos ajustes.
À meia noite andávamos nós nos corredores, a mãe agarrada ao “bobi” e tu a descansares....
Às 4 e tal da manhã, as dores estavam a ficar muito perto do insuportável e resolvemos chamar as enfermeiras que diziam, ah ainda não está com cara disso. Como se a minha cara falasse por ti. Mas a cara engana...e lá viram que já se podia dar um remédio para não sentir essas dores. Lá fomos nós....e depois foi esperar. A prima ia telefonando para as enfermeiras para saber como estavam as coisas. Mas ainda faltava. A mãe mandava mensagens ao pai....até que telefonou e disse, vem. O pai lá foi tão atarantado que estragou o pára-choques do carro. No dia a seguir o pai conseguiu avariar um carro emprestado, também. Mas nesse dia 25, lá esteve o pai com a mãe...e quando estavas mesmo quase a vir ao mundo, apareceu a prima! Surpresa boa!
E finalmente às 15:45 conseguiste sair!!!! A prima e a enfermeira diziam força: deram o jeitinho, e a mãe puxou-te pelos braços para dar a ajuda final. O pai, corajoso, pegou na tesoura e cortou o cordão que nos unia. E chorou...Mas tu choravas mais alto!
Mas mal te puseram em cima da minha barriga, ainda suja, cheia de coisas da mãe e coisas tuas, ficaste muito séria e caladinha a olhar para mim.
E eu olhava e não pensava. Só saía Olá Olá...princesa!
Levaram-te para os aposentos das princesas para te lavarem e vestirem. E depois, à socapa, a prima abriu a porta e mostrou-te aos avós. São aquelas fotos de avós de primeira viagem...a babarem contigo ao colo.
A mãe demorou muito tempo a ser arranjada....e quando te puseram a mamar, não querias sair. As visitas todas que tinham chegado, só nos puderam ver no corredor, e tu ainda a mamar! Os avós todos lá estavam, as tias, os primos.
E lá fomos nós as 2 para o quarto morrer de calor. Eras a maior do quarto: 3420Kg e 50 cm..
E eu fiquei não sei quanto tempo a olhar para ti a dormir, com os olhos cheios de água (muita água....) e a dizer: Olá Carolina, Olá! Olá bebé, Olá!


29 agosto 2005

A Avó

Aos 8 anos uma avó é assim:

"Uma Avó é uma mulher que não tem filhos, por isso gosta dos filhos dos outros. As Avós não têm nada para fazer, é só estarem ali. Quando nos levam a passear, andam devagar e não pisam as flores bonitas nem as lagartas. Nunca dizem "Despacha-te!". Normalmente são gordas, mas mesmo assim conseguem apertar-nos os sapatos. Sabem sempre que a gente quer mais uma fatia de bolo ou uma fatia maior. As Avós usam óculos e às vezes até conseguem tirar os dentes. Quando nos contam histórias, nunca saltam bocados e nunca se importam de contar a mesma história várias vezes. As Avós são as únicas pessoas grandes que têm sempre tempo. Não são tão fracas como dizem, apesar de morreram mais vezes do que nós. Toda a gente deve fazer o possível por ter uma Avó, principalmente se não tiver televisão."

(recebido por e-mail)

28 agosto 2005

Amigos

Eu não tenho muitos amigos. Sempre fui assim. Nunca tive uma mão cheia de amigos. Aqueles que eu considero como tal, são muito poucos. Mas, tenho conhecidos. Muitos conhecidos.
De há uns anos para cá perdi uma amiga. A amizade já não era nada, mas ela era aquela que me acompanhava em tudo. Fomos amigas na adolescência toda. Vivemos tudo uma da outra e só andávamos as duas. Não havia muitos mais amigos. Com os anos, passámos a telefonar de vez em quando. Ela, sem nunca nada de novo para contar, eu com inúmeras novidades: relações terminadas, recomeços, novas relações, desemprego forçado, novo emprego, outro emprego.....até que um dia ela me telefona e diz: “então, novidades?....sabes eu até tenho medo de te fazer esta pergunta porque a tua vida é sempre tão agitada....”. Eu não percebi logo, mas depois vi que foi ali que tudo acabou. Depois, o tempo foi passando, eu engravidei e ela nunca mais teve tempo para mim. Para a minha vida agitada, com muitas novidades. A Carocas nasceu. E ela sem tempo de a visitar, de me dar os parabéns sequer.
Este ano foi a vez dela engravidar. Quando soube que ela estava grávida, liguei. Dei-lhe os parabéns. A voz de pessoa comprometida disse tudo, as mil desculpas nada disseram. Ainda tentámos falar mais umas vezes, mas já não houve tempo. Já teve o seu menino há uns meses. Acho que em Junho. Eu não liguei a dar-lhe os parabéns. Não me apeteceu. Percebi definitivamente que a minha vida era realmente cheia de novidades, demasiadas novidades que lhe cansavam os ouvidos.
Eu não tenho muitos amigos, sou muito exigente para eles. Provavelmente nem os mereço. Mas vou tendo conhecidos. Muitos conhecidos.

26 agosto 2005

As Gordas Do Pintor


É hoje que as gordas guardadas do Pintor vão ver a luz do dia (ou da noite)....
Vou lá ver como ficou...e aproveito e revejo o mar da Ericeira.

Galeria Orlando Morais - Junta de Turismo da Ericeira
26 Agosto a 9 Setembro

Bonecos



Bem sei que agora anda muito na moda as artesãs. Os velhos trabalhos manuais voltaram a estar na berra, como é o caso do tricot e do crochet.
Existem ainda os bonecos de trapo. Depois de muitas visitas a blogs e a algumas feiras, continuo a gostar daqueles que me fizeram descobrir outros. Aconselho a visita à página da ervilha cor-de-rosa que para além dos bonecos, tem sacos e outro trabalhos da Rosa Pomar.
Indispensável, também é visitar este site...bonecas maravilhosas. Num outro dia deixo aqui mais endereços..
Tenho que me iniciar nestas coisas, acho que jeitinho não tenhum nenhum, mas não há nada como tentar.
Vejam e digam qualquer coisa...

Estou aqui perto


Eu também ando sempre por aqui....ou neste ou noutro blog ao lado, no e-mail, a procurar casas, de quando em vez vou até ao word ou excell...Mas se não estou aqui podem encontrar-me no MSN....

25 agosto 2005

Ser Mãe




Ser mãe é não saber escrever sobre isso.
Ser mãe é não encontrar palavras para descrever tamanho amor.
Ser mãe é ficar com cara de babada como nesta foto.

Um dia vão aparecer as palavras de mãe.

Simples tanto assim

A vida corre ao sabor do vento e, por vezes, o vento empurra-nos para a vida.
Por vezes, quando menos esperamos, aparece uma rabanada de vento que nos empurra, que, qual ciclone, nos transforma a vida. É tão simples!

Simples tanto assim

É simples
Tanto assim
Como o vento que sopra

É simples
Tanto assim
Que sopra

Que venta
Que sonha
Este vento

Esta sombra de ar
Que nos empurra
Esta lufada
Que nos sacode

Sopra devagar
Sussurra o meu nome
Suspende a respiração
Sacode o sorriso

E sente o sopro do vento que venta

24 agosto 2005

Cantarei

O canto de uma arma no canto de um prédio
O canto de uma senha na voz de um louco
O canto de uma casa velha nos olhos de um mendigo
O canto de uma velha na solidão do fim
O canto de um coração livre e desesperado
O canto de um quarto nos olhos dos amantes
O canto da boca a tocar nos dedos do pé
O canto de uma criança a boiar nos meus olhos
O canto mais esconso das ruelas velhas
O canto das fábricas
O canto das máquinas
O canto dos motores
O canto que serve de escape
O canto da Cidade
O canto do Mundo
O canto mais livre dos povos
O canto mais escondido da vida
O canto mais escuro de mim
O canto mais livre da minha alma
O canto mais triste da minha alma
Encontra um canto mais claro no encanto da tua voz

22 agosto 2005

Deus Finalmente Parte II

Com o coração nas mãos e muito longe do peito, correu pela praia. A areia fina, aguda, picava os pés frios.
O sol alto, massacrava a testa.
Ofegante desviava-se de bolas, de gelados, de crianças que mastigavam areia. Barrigas, bigodes e fios de ouro apareciam à sua frente, enormes barreiras, infinitos e eternos obstáculos. Ao longe, o som dos carros, o cheiro a tubo de escape. E só ela não escapava...
Ouvia vozes, ouvia comentários, porém não os decifrava. Sabia que falavam dela, que olhavam para ela.
Mas isso sempre soube. Falavam dela desde sempre. Mulheres e homens, umas invejavam o cabelo, a boca, o corpo, a vida; outros queriam o cabelo, a boca, o corpo e porque não, também a vida.
Era a imagem da perfeição desde pequena, era a imagem que todas queriam ter no espelho, era quem eles queriam ter ao lado, era, era, era.
E ela?
Não era nada. Para ela não queria nada. Não tinha nada. Só o coração nas mãos. Velho, cansado, triste, apagado. O peito doía, ardia, sangrava, morria. E o coração a saltar, a escorregar.
Empurrou dois colchões, saltou por duas bóias e correu para o mar sujo. Finalmente, Felizmente! pensou. A cegueira das vozes, o silêncio dos olhares. Finalmente o encontro tão desejado e pensado. Finalmente!
E caminhava para o mar, para dentro dela, para longe dos outros. As vozes cada vez a comentarem mais, e cada vez mais distantes. O coração a saltar, agora sim, a Viver. Desapareceu no mar.
A-DEUS, disse.
A-DEUS.........lá chegarás!

19 agosto 2005

Antes só que mal acompanhada

E assim foi. Passou por entre a multidão e olhou para todos os pés que esmurravam o chão. Gritou com os olhos à espera de um sorriso adiado. Chorou com as mãos numa dança de gaivotas sem rumo.
Mas era tarde: a tempestade já estava em terra.
Nem correr conseguia.
Nem fingir sabia.
Nem sonhar podia.
Nem um olhar, nem um soslaio, nem um sorriso, nem um esboço.
Era cada vez mais transparente para os outros. E tantas vezes, em outras tantas alturas da vida, que tinha desejado ser transparente! Tantas, menos agora. Todas, menos agora.
Agora queria um olhar, um sorriso uma palma de mão.
Era tanta gente e ninguém olhava, e ninguém perguntava, e ninguém sorria e ninguém se importava.
Era agora que o telefone devia tocar, era agora que os convites rejeitados deviam chegar, era agora....
E de certeza que nada iria acontecer, porque se o telefone tocasse não ia atender; se o convite adiado viesse, ia-se esconder.
Mas era preciso uma mão, era preciso um ombro, era preciso um olhar, era preciso....
Para suportar a dor, a solidão, o nó na garganta, cada vez maior, cada vez mais quente, ardente.
Tentou respirar fundo, mas o ar não ajudava, o peito fechava-se.
“Olha para o céu, que é sempre calmo e relaxante, estupidamente bonito”, costumava alguém sussurrar ao ouvido. Mas hoje, agora, não estava ninguém, nem ia estar....nunca mais....eu não deixo, nem quero. Antes este nó na garganta e o peito apertado que a incerteza no olhar, nas mãos, no coração.

17 agosto 2005

Em 2001 escrevi o texto que se segue...é um de muitos a que resolvi chamar A-Deus.


Lisboa

Depois de navegar pelas ruas libertas de gente, sentou-se num banco de jardim.
Sabia que tinha chegado a altura de descansar, respirar e olhar para outra coisa que não ela própria.
Às vezes cansava-se dela, dos eternos problemas, que tantas vezes nem o eram, mas de tanto pensar acabavam por se transformar em questões intransponíveis. Talvez, tudo isso, se devesse ao facto de não ter ninguém que realmente merecesse a sua confiança. Não, que ideia, ela não tinha era ninguém com quem conversar.
É isto que mais a irrita, o facto de se enganar a ela própria. E se nem ela própria se suportava, como é que podia abrir-se para os outros? Seria completamente ignorada. Novamente o engano próprio: agora também és totalmente ignorada, não tens gente que viva contigo, que jante num sábado, que almoce num domingo; que vá ao cinema contigo; que te ofereça uma prenda no dia de natal ou no dia de anos.

Levantou-se do banco velho de jardim e inclinou-se sob a poça de água. Viu o seu rosto distorcido e soltou uma gargalhada, era mesmo assim por dentro: feia, velha e desfocada. Suspirou fundo e entrou no prédio pombalino que habitava. Devagar e num silêncio absoluto mergulhou na casa. No quarto ao fundo viu os dois filhos que dormiam. Eram parecidos com o pai, pensou. Na sala o cão repousava no sofá, e claro que nem abanou o rabo quando a fitou. Na enorme cama de casal, o marido dormia.
Ninguém tinha dado pela sua falta, a não ser, provavelmente, o amontoado de louça que estava à espera dos seus braços para que ficasse lavada. Realmente, ela era a sombra de todos os dias naquela casa. Ninguém notou a sua falta. Suspirou mais uma vez e foi tomar um duche.
Quando a água fria lhe acariciava a cara, sorriu, sentia-se feliz, depois de muito tempo.
Pegou na lâmina do marido, abriu as veias, e disse finalmente: A-Deus.

16 agosto 2005

Deixa estar

Deixa estar
Não vale a pena estranhar
Esta vida sempre igual

Deixa estar
Não vale a pena questionar
Este viver devagar

Deixa estar
Não vale a pena chorar
O passado enterrado

Deixa estar
Não vale a pena angustiar
Por um futuro fechado

Deixa estar
Vamos vivendo
Devagar

Sem grandes expectativas
Sem grandes ambições
Sem grandes questões
Sem grandes emoções

Deixa estar, para quê incomodar?
Deixa estar, as coisas boas acontecem e as más desaparecem

Vai-te deixando estar...

Hoje sinto-me azul ou I’m feeling blue

Azul melancólico
Azul triste e nostálgico
Azulada com a vida
Azulada de ritmo triste

Pode ter sido do rosa choc de ontem
Deixou-me rosada de vergonha
Era um rosa velho aquele
Acho que nunca foi bebé

Precisava de um verde
Verde bandeira para ter referências
Verde azeitona para me lembrar o país
E amarelo assim sendo. Amarelo canário para alegrar as tardes soalheiras, amarelo oiro para avivar tesouros escondidos.
E claro que seria acompanhado pelo vermelho
Vermelho sangue, vermelho revolução, vermelho a puxar para o grená, que isto de ser cor tem as suas nuances.

Mesmo o preto, conhecido pela sua imensa escuridão, se se descuida, descaí para o cinzento.
Mesmo o branco, quando tomado pelo sol nestes dias de verão, fica pérola, ou até mesmo areia.

Quem sabe um dia deixo de me sentir azul e tenho referências verdadeiras, um pais com cor, cheio de tardes soalheiras que desvendem tesouros. Assim, com o sangue a pulsar nas veias, faço uma revolução sem espaço para nuances e subterfúgios a empurrar a minha vida.

(Lisboa, 3 de Agosto de 05)

12 agosto 2005

Comentar os Comentários

Ora bem, resolvi agora comentar os comentários dispersos....
O meu nome, efectivamente não é Rita, sou a outra, a irmã loira!

Então é assim: os cegos que andam a ver bem este bloguito foram os meus companheiros da peça Ensaio sobre a cegueira, que está no Teatro da Trindade. Aconselho vivamente: ler o livro e ir ver a peça. Um outro conselho: NÃO deixar o carro estacionado em frente à Cervejaria Trindade, com um blusão de ganga no banco. Há pessoas capazes de partir os vidros e levar o blusão. E nem um bilhete, nada! Mais vale deixar no parque de estacionamento. Custa cerca de 6€ e um vidro novo, 88€.

Mais tarde posso explicar quem é o Herói da Estefânia, o Tarzan da Selva Urbana, o Bravo Soldado da Paz. Ele também terá espaço para as suas cores.

O resto: gorduras, pintores, 27s e afins....já tiveram ou vão ter a sua vez!

Das Dores

A Mana

A mana nasceu e roubou-me o trono. Confesso que me deu algum jeito porque ela entretinha as pessoas e eu podia ficar, qual bicho-do-mato na minha toca, com os meus óculos a ler livros de aventuras.
A mana foi crescendo e aprendendo as coisas básicas da vida: sim senhora, eu empresto as coisas, desde que me peças antes. Brincos, camisolas e essas coisas novas podem ser emprestadas, mas antes tem que ser a proprietária a estrear.
Quando estava a crescer, a mana foi mostrando aquilo que era capaz: sem saber ler nem escrever, mete pires por baixo de uma santa que brilha no escuro, e pede para ser eu a escrever o papel: ajude a santinha. Parece que ainda rendeu. A mana foi aprendendo que isto de religião e dinheiro anda muito de mão dada. E pequena, lá ia pedindo uma moedinha para o Santo António, em Junho, Julho...Agosto. Esta parte não fazia as delícias da mãe.
A mãe também não gostava que todas as mesas dos cafés fossem corridas pela criança a pedir moedas para tirar bolas das máquinas. A mãe também ficava envergonhada quando, no Algarve, a mana pedia a uma alemã para a pôr a fazer chichi, ou no bar exigia mais um gelado empoleirada em cima de uma cadeira, deixando sem reacção os empregados.A mana tinha as suas coisas. Mais tarde, já sabia escrever, e aí, os actos tornaram-se mais expeditos. Ora dia em que não há escola, é dia de mala aviada. E nuns dias passados na santa terrinha, descobre um gato. Resolveu chamar-lhe flufi, penso que por ser um nome sonoro, estrangeiro, cumpria o objectivo: fazer um clube do gato. Ora bem, nesse caso é necessário angariar sócios. Recorre-se dos familiares e amigos. E claro faz-se cartões com fotografias tipo passe. Que isto não é só pagar as quotas há que ter alguma retribuição. A revista editada com uma periodicidade desconhecida também é uma mais-valia para os sócios. É claro que o gato como veio, também foi à vida dele. Mas o clube mantinha a sua presença viva!
Enfim, a mana, de muitas andanças, não é só uma criança com olho para o negócio (ainda estou à espera que agora em adulta ponha em prática os MBAS tirados na infância) a mana cantava, organizava “bandas” infantis, tendo como mentores os “onda-choc” ou os “mini-stars”.

Mas a mana foi crescendo, foi descobrindo que a vida é feita de muitas cores, mas também de algumas dores. Muitas dessas, ficaram escondidas disfarçadas para ninguém as achar. Eu acho que sei algumas, mesmo as dores mudas...outras nem as sonho. E com uma mana destas mais nova e toda luz e cor, só se pode aproveitar. Tantas vezes que a mais velha passa a ser ela. É ela quem me manda sair dos meus “grandes” dramas. É ela que me mostra muitas vezes que “toda a gente é assim”. A mana tem muitos amigos, deve ser por isso. Chama-os à terra, e por isso cultiva-os. Daí que lhe possam sair da cabeça cores azuis...e roxas (claro).

A mana tem muito que se lhe diga. Esta foi só uma pincelada. Até porque há uma menina que gosta muito dela. E essa menina vai seguir a pisadas da “tita”....até porque a mana deu-lhe um piano para pisar........com muita música para dançar!!!

11 agosto 2005

An(d)a (g)Rita


Este é só um cheirinho de uma palete de cores que a Rita tem (ou vai ter). Por isso Anda Rita, Grita e Dança...An(d)a (G)Rita nas Andanças ....


A Rita
Chico Buarque

A Rita levou meu sorriso
No sorriso dela
Meu assunto
Levou junto com ela
E o que me é de direito
Arrancou-me do peito
E tem mais
Levou seu retrato, seu trapo, seu prato
Que papel!
Uma imagem de São Francisco
E um bom disco de Noel

A Rita matou nosso amor
De vingança
Nem herança deixou
Não levou um tostão
Porque não tinha não
Mas causou perdas e danos
Levou os meus planos
Meu pobres enganos
Os meus vinte anos
O meu coração
E além de tudo
Me deixou mudo
Um violão

10 agosto 2005

A indústria dos incêndios

José Gomes FerreiraSub-director de Informação da SIC

Oficialmente, continua a correr a versão de que não há motivações económicas para a maioria dos incêndios. Oficialmente continua a ser dito que as ocorrências se devem a negligência ou ao simples prazer de ver o fogo. A maioria dos incendiários seriam pessoas mentalmente diminuídas.
Mas a tragédia não acontece por acaso. Vejamos:
1 - Porque é que o combate aéreo aos incêndios em Portugal é TOTALMENTE concessionado a empresas privadas, ao contrário do que acontece noutros países europeus da orla mediterrânica?

Porque é que os testemunhos populares sobre o início de incêndios em várias frentes imediatamente após a passagem de aeronaves continuam sem investigação após tantos anos de ocorrências?

Porque é que o Estado tem 700 milhões de euros para comprar dois submarinos e não tem metade dessa verba para comprar uma dúzia de aviões Cannadair? Porque é que há pilotos da Força Aérea formados para combater incêndios e que passam o Verão desocupados nos quartéis?

Porque é que as Forças Armadas encomendaram novos helicópteros sem estarem adaptados ao combate a incêndios? Pode o país dar-se a esse luxo?

2 - A maior parte da madeira usada pelas celuloses para produzir pasta de papel pode ser utilizada após a passagem do fogo sem grandes perdas de qualidade. No entanto, os madeireiros pagam um terço do valor aos produtores florestais. Quem ganha com o negócio? Há poucas semanas foi detido mais um madeireiro intermediário na Zona Centro, por suspeita de fogo posto. Estranhamente, as autoridades continuam a dizer que não há motivações económicas nos incêndios...

3 - Se as autoridades não conhecem casos, muitos jornalistas deste país, sobretudo os que se especializaram na área do ambiente, podem indicar terrenos onde se registaram incêndios há poucos anos e que já estão urbanizados ou em vias de o ser, contra o que diz a lei.

4 - À redacção da SIC e de outros órgãos de informação chegaram cartas e telefonemas anónimos do seguinte teor: "enquanto houver reservas de caça associativa e turística em Portugal, o país vai continuar a arder". Uma clara vingança de quem não quer pagar para caçar nestes espaços e pretende o regresso ao regime livre.

5 - Infelizmente, no Norte e Centro do país ainda continua a haver incêndios provocados para que nas primeiras chuvas os rebentos da vegetação sejam mais tenros e atractivos para os rebanhos. Os comandantes de bombeiros destas zonas conhecem bem esta realidade.

Há cerca de um ano e meio, o então ministro da Agricultura quis fazer um acordo com as direcções das três televisões generalistas em Portugal, no sentido de ser evitada a transmissão de muitas imagens de incêndios durante o Verão. O argumento era que, quanto mais fogo viam no ecrã, mais os incendiários se sentiam motivados a praticar o crime...

Participei nessa reunião. Claro que o acordo não foi aceite, mas pessoalmente senti-me indignado. Como era possível que houvesse tantos cidadãos deste país a perder o rendimento da floresta – e até as habitações – e o poder político estivesse preocupado apenas com um aspecto perfeitamente marginal?

Estranhamente, voltamos a ser confrontados com sugestões de responsáveis da administração pública no sentido de se evitar a exibição de imagens de todos os incêndios que assolam o país.
Há uma indústria dos incêndios em Portugal, cujos agentes não obedecem a uma organização comum mas têm o mesmo objectivo – destruir floresta porque beneficiam com este tipo de crime. Estranhamente, o Estado não faz o que poderia e deveria fazer:

1 - Assumir directamente o combate aéreo aos incêndios o mais rapidamente possível. Comprar os meios, suspendendo, se necessário, outros contratos de aquisição de equipamento militar.

2 - Distribuir as forças militares pela floresta, durante todo o Verão, em acções de vigilância permanente. (Pelo contrário, o que tem acontecido são acções pontuais de vigilância e combate às chamas).

3 - Alterar a moldura penal dos crimes de fogo posto, agravando substancialmente as penas, e investigar e punir efectivamente os infractores

4 - Proibir rigorosamente todas as construções em zona ardida durante os anos previstos na lei.

5 - Incentivar a limpeza de matas, promovendo o valor dos resíduos, mato e lenha, criando centrais térmicas adaptadas ao uso deste tipo de combustível.

6 - E, é claro, continuar a apoiar as corporações de bombeiros por todos os meios.

Com uma noção clara das causas da tragédia e com medidas simples mas eficazes, será possível acreditar que dentro de 20 anos a paisagem portuguesa ainda não será igual à do Norte de África. Se tudo continuar como está, as semelhanças físicas com Marrocos serão inevitáveis a breve prazo.

José Gomes Ferreira


09 agosto 2005

O Pintor

O pintor tem as cores na ponta dos dedos, mas também as dores.
Com a mestria de uma pincelada tantas vezes traduz as minhas cores. Mas tantas outras expõe as minhas dores.
Este pintor, eu conheço há muitos anos. Há tantos que nem me lembro quantos são. Não sendo da família, entrou para lá, e vai ficar para sempre.
Este pintor, com o qual eu não falava por ser uma miúda tímida, com muitas dores por resolver (algumas ainda por cá andam...).
Só uma árvore me fez falar, ou melhor, o alperce no cimo da árvore. Essa cor de fruta fez com que eu perdesse a vergonha e lhe dissesse ali está mais uma fruta para apanhar. Passaram-se muitos anos e eu nunca mais me lembrei de como falei pela primeira vez com o pintor.
Mas ele não se esqueceu. Numa altura de transição da minha vida, quando acabei o curso e cumpri o ritual (com o qual nem concordava muito) de distribuir fitas de fim de curso para amigos e familiares assinarem, o pintor pintou a minha fita. E nessa fita para além do desenho do alperce vinha também a memória. A menina que perdeu a vergonha e no quintal da casa da praia diz que está ali mais um alperce.
A pintura do pintor fez-me sorrir. Mas as letras do pintor fizeram-me chorar.
Era uma altura difícil da minha vida, essa, a das fitas. Estava a deixar uma etapa importante para trás e tinha um futuro diferente pela frente. Mas também foi uma altura de decisões, em que cortei com outras amarras que me deixaram amorfa durante anos.
As cores e as letras do pintor deixaram-me de queixo trémulo e lágrima ao canto do olho. Não chorei de dor, mas de cor.
E mais uma vez, o pintor lembrou-se das palavras: e deixou aqui na blogosfera a sua pincelada em letras.
E eis algumas cores:

03 agosto 2005

Dois em Um

De visita a um blog amigo encontrei um texto sobre a caminhada de alguém para sair da droga. Vida de dor essa. Essa vida fez-me recordar que há tantas outras vidas sem futuro, sem cor (provavelmente estão à espera de uma mão, ou de uma porta, ou de alguém...) dois textos que apesar de não parecer também se cruzam (com as dores e as cores).


Nem todas as vidas se cruzam como as nossas.

Vidas descruzadas, vidas sem encontros
Vidas desmanteladas, vidas sem amor
Vidas desencontradas, vidas sem rumo

Vidas afuniladas para abismos
Vidas encaminhadas por outros
Vidas desenganadas da sorte

Vidas desestruturadas
Vidas maniatadas
Vidas desencantadas

Vidas que não rodopiam, mas se enrolam
Vidas que se desunem do amor
Vidas que choram pelo prazer

São vidas dispares das nossas
São vidas ao contrário das nossas
São vidas vizinhas das nossas

E tantas vidas, tantas vezes
Nos são indiferentes
E tantas vidas, tantas vezes
Tocam nas nossas

E todas estas vidas
As nossas vidas
As outras vidas
Caminham juntas para a morte

(Lisboa, 5 de Maio de 2005)


Espera

Tanto tempo que espero
Tanto tempo que tenho a vida parada
À espera de um caminho
À espera de nada

Tanto tempo fechado numa gaveta por abrir
Tanto tempo sem horas para medir
À espera de um carinho
À espera de sorrir

Todo este tempo perdido
Esperando por ti
Esperando por mim

Todo este tempo perdido
Não o vou recuperar
Perdi as cores
As vozes
Os sorrisos

Perdi-me a mim e alguém para amar.

(Lisboa, 3 de Agosto de 05)

01 agosto 2005

A propósito do 25 de Abril e a propósito das cores e dores da minha vida

Os cravos já não brilham, amor

Os cravos já não brilham
Ficaram opacos
Eram vermelhos, lembras-te?
Ficaram cinzentos

Não chegaram a murchar
Mudaram de cor
Não chegaram a morrer
Ficaram tristes

Dizem que é normal
Dizem que é a evolução
Dizem que é natural
Dizem que é amadurecer

Passou ainda tão pouco tempo
E já há tanto esquecimento
Passou ainda tão pouco tempo
E já há tanta indiferença

A vida passa, corre
Dizem alguns.
E ficam parados a vê-la acontecer
Quando sequer a avistam!

E vão passar mais anos, amor
E vão passar mais pessoas, amor
E vamos olhar para os cravos
E quem sabe se, um dia, voltam a avermelhar

Com(o) o sangue
Com(o) o amor
Com(o) a paixão
Com(o) a vontade de colorir e mudar as nossas vidas


Lisboa, 5 de Maio de 2005

Gorduras

A propósito de uma futura exposição de pintura que se vai centrar na questão da obesidade e sua aceitação/rejeição por parte da sociedade, fiquei a pensar no elogio à extrema magreza ( a quase anorexia, ou mesmo anorexia...) que actualmente é imposta. Aqui estão as Dores de algumas.

Mulheres Gordas

Só há uma altura em que se pode chamar gorda a uma pessoa do género feminino, sem, no mínimo, levar com um olhar reprovador: quando se é bebé. Pelo menos é uma alegria para qualquer mãe ouvir: “ai estão tão bem, tão gordinha, está mesmo boa!!!”
O caso muda de figura quando se vai ao pediatra que alerta para os perigos da obesidade nas crianças, deixando no ar a ameaça da dieta alimentar: “vamos ver como ela está na próxima consulta, e qual o comportamento quando começar a andar”. Senão: dieta, não queremos bebes gordos.
E pronto, a partir daqui entra-se na espiral do corpo magro. Se ainda fosse a do corpo são em mente sã... mas não, muitas vezes é roda eufórica do corpo de osso e pele. Pior ainda é quando este “ideal” persegue-nos em todos os lados: TV, rádio, revistas, jornais, Internet....
Mas há gente que é cada vez mais gorda: os chamados obesos. Que não podem ser felizes, ou melhor não devem ser felizes. Questões de saúde à parte....(quantos magros, dos muito magros são saudáveis?!)
A perseguição da magreza extrema é saudável? A realidade das gordas, das imensas carnes será assim tão deplorável? Haverá espaço para a felicidade?
Claro que sim, desde que se esteja bem com o seu corpo. Frase feita para pensamentos aconchegantes... Mas quem é que realmente se sente bem com o seu corpo? Não haverá sempre uma coisinha a tirar, a esticar, a esconder?
E estas imensas mulheres? Saberão encarar a vida de frente? Nós temos tantas e tantas defesas....crescemos a fabricá-las, mas tantas vezes também só crescemos quando destruímos algumas delas.
As magras que quase rangem ao andar estarão presas às gaiolas da fome voluntária? Às prisões do desejo do “corpo perfeito”? Serão verdadeiramente elegantes? Não será uma vida de sacrifícios em prol da “beleza”? Não serão estas eternas reclusas, presas a ideias e vontades impostas por uma sociedade das aparências? Não serão elas as verdadeiras Gordas?


Mentes gordas, untadas de ar. Pensamentos feitos de estrias, corações rachados de celulite. Olhar flácido, alma disforme. Mentes gordurosas mas com corpos de TV de umbigo à mostra. Mostra tudo! Corpos montra de nada, de ossos e peles. E a cabeça a pedir um recheio de chocolate abraçado por chantili.