20 outubro 2008

No meu trabalho

somos muitos.
Porque são muitos mais os que nos telefonam. Trabalhamos com tecnologias e com vidas de tantas pessoas. Muitas, mesmo. Por mês ouvimos 35 mil pessoas.
Trabalho com tanta gente. Todas tão diferentes. Na minha sala passam por dia quase cinquenta pessoas, quarenta e muitas. Vinte e tal de manhã, vinte e tal à tarde. E eu lá de manhã e de tarde. Estas pessoas que estão comigo todos os dias são fantásticas. Há ricos e pobres, novos e mais velhos, pretos e brancos. Estrangeiros e portugueses. Não importa. De onde vieram, muitos não são para lá ficar, são para fugirem, irem mais longe. Não importa. Outros houve que já voaram. Estão melhores. No meu trabalho somos muitos. Há muitos deles que me irritam. Que me chateiam, que me tiram do sério. Porque faltam, porque fazem pausas, porque falam nas costas dos outros. Mas todos, sem excepção são também a minha família. Todos, sem excepção, são o meu trabalho, parte da minha vida. Todos sem excepção, ajudaram-me a crescer. Este é (felizmente) o meu trabalho. E quando estou cansada, como hoje, quando já não me apetece mais nada, quando me apetece desistir. Penso neles. Penso em mim, que não fazia nada sem eles. E gostava de pensar que eu também fui importante, ou pelo menos, um bocadinho na vida de cada um deles. Um bocadinho.

3 datas:

que passaram em branco aqui:
18 de Agosto: 60 anos da minha mãe
6 de Outubro: 29 da minha irmã
17 de Outubro: 60 anos do meu pai.

A minha família de sempre:

Parabéns do fundo do coração

Diz que

ter um blog é vulgar. O homem diz que sim e tem um.

11 outubro 2008

Apanha, Recolhe, Verga-te,

Apanha, Recolhe, Verga-te, mais uma vez e uma e outra. Tu, a tua mãe, a mãe dela. A tristeza, a pobreza, a incerteza apenas mudou de lugar. Os rostos são outros (ou não), a lição a mesma. Na imensidão da solidão do campo, na imensidão da solidão da saudade. Cantas no campo, cantas na cidade. Se no campo não havia vivalma para te ouvir. Na cidade podem estar bem perto, mas os i-pods do coração impedem de ouvir. Os vidros duplos impedem de chegar os sons. Vidros duplos nos olhos, nas consciências, nos corações. Tempos passam e a inclinação é a mesma.....Apanha, Recolhe, Verga-te.

27 setembro 2008

e tantas vezes dou por mim a dizer isto:

Lisboa tem um vestido azul feito de
mar e guerra.

E cheira a laranjas maduras.

Quando as gaivotas trazem no bico
os primeiros pedaços de sol para acender o dia,
Lisboa deixa correr os cabelos pelo Tejo
e o povo pelas ruas.

À mesma hora, a coragem agita no sangue
duas grandes asas inquietas.

Por todas as janelas destruídas, já o mar entrou,
derrubando acácias,
cantando hinos de espuma

E porque toda a coragem é necessária,
toda a esperança é legítima.




joaquim pessoa, não me lembro o livro, nem o ano.....

Alexandre O'Neill

Há palavras que nos beijam

Como se tivessem boca,

Palavras de amor, de esperança,

De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas

Quando a noite perde o rosto,

Palavras que se recusam

Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas

Entre palavras sem cor,

Esperadas, inesperadas

Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama

Letra a letra revelado

No mármore distraído,

No papel abandonado)

Palavras que nos transportam

Aonde a noite é mais forte,

Ao silêncio dos amantes


Poesias Completas 1951-1986

25 setembro 2008

A minha filha disse:

"o meu pai é a mãe mais bonita da minha escola".
E eu à noite chorei.

Find Maddie

O mundo está cheio de Madalenas. Algumas vão ser mães de outras Madalenas. Os laços que perduram no tempo, e que sempre irão ficar, os da família, também se quebram. Também se perdem porque muitas vezes nunca existiram. Eu sei que o mundo está cheio delas. Madale(i)na(e)s perdidas neste mundo. Mas enquanto não as conhecemos não as vivemos.

23 setembro 2008

os dragões não existem

Ontem sonhei com ele. Era alto e forte, o mais poderoso de todos. Não estava comigo, mas mandou por e-mail uma fotografia das suas voltas pelo mundo. Desta vez estava a abraçar um Dragão. O meu pai abraça dragões. Eu sei que os dragões não existem, mas em sonhos podem existir. Em sonhos podemos abraçar quem quisermos. Em sonhos.
O meu pai, esse homem, que acho que já vi. O meu pai, esse homem que a minha mãe nem quer ouvir falar. Mas anda na volta ao mundo, nas viagens sem fim. Um dia, sei bem, que vem tocar à minha porta e levar-me para andar num barco grande, e nesse dia sei que o vou abraçar, mas não em sonhos.
O meu pai anda pelo mundo, e tenho a certeza que já me escreveu um postal. Perdeu-se no correio, com as cartas todas que já me enviou. O meu pai, que nem uma fotografia eu tenho com ele. Abraça Dragões, viaja pelo mundo. E um dia vem cá ter comigo, viaja para perto de mim. Pára de fugir pelo mundo e vem para mim. Nesse dia, roubo todas as prendas do dia do pai que fiz na escola e ofereci à minha mãe. Nesse dia, passeio orgulhosa com ele de mão dada, mostro todas as fotos dos meus nove aniversários e peço-lhe um beijo. Nesse dia acredito em Dragões e em fadas.

14 setembro 2008

Namorados

Os namorados devem estar sempre juntos, disse ela, do alto dos seus nove anos. Aos nove anos já sabe o que são as agruras do amor. Pelo menos dois meninos da sala foram desgostosos para casa. Precisamos de dar um tempo, “e eu, já não era capaz de estar com eles”. Foi ela quem o disse, uma vez. Às tantas parecia que eu estava a ouvir um dos desabafos das minhas amigas, mas estas na casa dos 30. Porém, também ela já tinha sofrido com os amores. Um menino, já com 10 anos, muito próximo dos 11, fez com Madalena este verão ficasse com o coração pequeno.
Na praia, e depois de lhe roubar um beijinho, disse: sabes, as miúdas como tu não são para mim. Não percebes nada de futebol, e eu vou ser um jogador de sucesso. Não posso perder tempo contigo. E assim acabou mais um namoro de verão. E assim começou o primeiro desgosto de amor de Madalena. Durou pouco. Ela sabe que, pela experiência da mãe, os namorados e os homens na vida das mulheres são fugazes. Aliás, ela nem sabia muito bem do pai. Achava que tinha um, lembrava-se vagamente de estar com ele, mas segundo lhe diziam sempre, estava a viajar. A mãe não gostava nada de falar sobre ele. Fazia má cara e acabava sempre com um ar de dores de cabeça. Aprendeu, assim desde cedo, que os homens são voláteis. Podem estar como deixar de estar. Podem viajar e se perderem nesses mundos estranhos. Era como os namorados da mãe. De início faziam-na feliz: maquilhava-se, comprava imensa roupa, sorria muito. Ia passear com ela, oferecia-lhe mais guloseimas que o normal, e às vezes ignorava que era necessário comer sopa. Passado uns tempos, a mãe ficava com cara de dores de cabeça. E às vezes à noite Madalena achava que a ouvia chorar no quarto. Era nessa altura que a mãe se fechava na casa de banho. Falava alto, gritava. Madalena já sabia, estava na altura da mãe trocar de telemóvel, pois normalmente partia-os quando os atirava ao chão, de enervada que ficava com aquele namorado.
Aos 9 anos já se sabe muito. E Madalena sabia que chegava a altura de ir para casa da avó por uns dias. Lá havia chá, bolinhos e alguma tranquilidade. Pouca, mas mais que lá em casa. Pensava ela que era porque lá havia um homem, sempre um homem a quem ela chamava de avô. Este era o homem da vida dela, parece que também deixava a avó doida. Aliás, toda a gente deixava a avó doida. A avó, de vez em quando desaparecia e ia para a casa da praia. Sozinha. Sem homem. Para não ficar doida.
Madalena ficava com o avô, que tentava ensiná-la a jogar xadrez. A mãe, recomposta, vinha buscá-la para casa. Voltava, então, a sopa, o horário espartano. E Madalena pensava: os namorados devem estar sempre juntos.

25 agosto 2008

FDS

Fim-de-semana grande, apesar de ter tido os mesmos dias que os outros.
Apetece-me dormir. Esta segunda-feira está longa, a manhã foi do tamanho de um dia.

20 agosto 2008

NOVA VIDA

há já bastante tempo que não venho aqui. Pensei e repensei. Fecho o blogue, não fecho. O que é certo é que não tenho tempo para escrever aqui.
Por outro lado, os poucos leitores que tinha já cá não vêm. Perderam o hábito.
Pensei então que podia abrir o espaço, uma vez que ninguém o lia. Servia para mim, para fazer de eco dos meus pensamentos. Não para ser escritora iluminada, mas para servir de muro das lamentações, desabafos, e tentativas de textos-a-puxar-pá-poesia-mas-que-não-rimam.
Por isso, prometo (não sei bem a quem) que vou reabrir a porta. E, pelo menos, tentar escrevinhar qualquer coisa aqui todos os dias.