26 novembro 2010

Sentença


às vezes as palavras não se juntam. Não se encontram. Andam na cabeça, no coração, às voltas e voltas e teimam em não se encontrarem. Muitas vezes não precisamos de muitas. Basta uma ou duas juntas, de mãos dadas. Essas, são as que às vezes menos dizemos. Custa às vezes encontrar um desculpa. Um Enganei-me. Se uma sozinha custa a sair, fica lá atrás de uma grande pedra, a espreitar, à espera que a puxe, a chame, diga vem. Muitas vezes sai sem mais nem porquê. Daquelas vezes que não interessa muito, ou não interessa tanto. Porque se a utilizamos interessa sempre, nem que seja um bocadinho. Se esta custa a sair, há outras, que por serem mais e precisarem de outras, demoram mais a sair. E quando saem apresentam-se tarde ao serviço. Muitos autocarros depois. São as palavras: Gosto de ti. Gosto muito de ti. Gosto tanto de ti. Há ainda outras, mais VIPS, que viajam sempre em executiva. São os adoro-tes, os Amo-tes, os Fazes-me falta e o preciso de ti. Estas são as palavras que não se juntam, mas que estão lá sempre. Escondidas nas outras, as fáceis, as que deslizam por todo lado. Aquelas que flutuam e fazem com que fale até ao infinito. Mas há umas que estão na gama das que nunca digo: Ajuda-me, estou mal.
Estas são as palavras proibidas, as presas, as detidas que nem com pulseira electrónica podem circular.
São as palavras surdas, chamo-as tantas vezes. Não ouvem, não vêem e não falam. Estão enclausuradas. Não são para sair.
Um dia, vou libertá-las. Abro as grades, só para ver como se dão, quando tiverem olhos, ouvidos e boca. Quando se puderem sentar à mesa comigo. Quando estiverem comigo de mãos dadas. Um dia, leio-lhes a sentença.