20 novembro 2013

A Bungavília

Não tenho terra. A minha terra é esta, não nasci aqui, nasci uns kms ao lado, mas sempre vivi aqui. Morei uns anos do outro lado do rio grande ou do mar da palha, como lhe chamam. Mas a minha terra é este subúrbio. Uma cidade com vida de aldeia. Um subúrbio onde se conhecem as pessoas pelos nomes ou alcunhas. Há as ratinhas, havia a Maria do Vasco e a filha dela, há sempre uma figura de se destaca pela sua loucura, fruto de vida bebida demais ou bebida pela vida. Um subúrbio onde muita gente sabia quem eu era por ser neta ou filha (e agora mãe) de alguém, mas que poucos sabem o meu nome. Uma cidade que se ouve o sino da capela ou, aos domingos, o meio dia pela sirene dos bombeiros.
Não tenho terra. Mas tenho o Casal do Paúl. Uma casa com quintal grande que os meus pais compraram há uns anos largos. Foi reconstruída, aprendemos a trabalhar uma serie de materiais e a plantar uma outra serie de coisas que crescem na terra e da terra.
No quintal grande do Paúl, há uma Bungavília que trepa pelo alpendre até ao telhado. Enorme. Linda. A bungavília não me viu crescer. Já me viu mulher. Mas, pensando bem, a bungavília viu muitas coisas minhas. Conheceu a maioria dos meus (des)amores. (ou)Viu as pausas e restart da vida. (ou)Viu as minhas barrigas. (ou)Viu as minhas filhas de colo. Viu a barriga da minha irmã e viu a minha sobrinha.
A Bungavília não é minha. É dos meus pais. Nem eles sabem o quanto gosto dela. Aliás ninguém calcula o bem que me faz olhar para ela.
A bungavília suja o chão. A bungavília está enorme. Já em tempos se falou em cortar a Bungavília. A minha mãe não deixou. O céu visto por baixo da bungavília é muito mais bonito.
A Bungavília estava lá quando aparecemos naquela terra. Não se corta a bungavília porque ela sempre esteve lá para nós. Umas vezes em flor outra vezes a sujar o chão. Mas sempre lá. Quantas flores apanhadas da Bungavília é que as minhas filhas me deram?
Nunca tive terra. Os meus pais têm uma bungavília que sempre lá esteve e sempre vai lá estar. Uma mãe não deixa cortar a Bungavília porque a
 Bungavília dá flores da cor preferida das meninas. Porque a Bungavília  faz o céu mais bonito. Porque a Bungavília é A Bungavília.

09 novembro 2012

Voltar

No meio do deserto, ele caminhou nas poças de água.
No meio do deserto, ele conheceu a cor das flores.
No meio do deserto, ele procurou os pingos mais grossos da chuva.
No meio do deserto.
 As cores feitas outono, os cheiros feitos inverno.

No meio do deserto, ele relembrou a meninice.
O cheiro a manteiga nos dedos, a cor negra por baixo das unhas, as lágrimas engolidas para não dar parte fraca com as quedas e arranhões nos jogos da bola.

No meio do deserto, ele procurou o conforto.
No meio do nada e tudo a aparecer como se fosse um caleidoscópio que gira incansavelmente.

No meio do deserto ficou desconcertado.
Como controlar as ideias?
Esta saudade do passado. Da meninice. Do bom dia, senhora professora.
Como parar esta onda gigante que se apoderava dos sentimentos, da razão, do coração?

No meio do deserto, ele esperava ainda por ela. Que não voltou. Que não voltará. Que não vai voltar nunca. Procurava a sua mão. Procurava o seu olhar. Ansiava por caricias no cabelo. Não vinham. Nunca vieram. Nunca estiveram.

Mas mesmo sem elas, sem elas nunca terem aparecido, ele achava que sabia como eram. Como elas aconchegavam, como elas cheiravam, como elas soavam. 
No meio do deserto e isto a passar pela cabeça.
Isto que há tantos anos que não aparecia assim tão vívido. Nestas palavras, nestes sentimentos, com esta força.
Claro que todos os dias o sentia. Claro que todos os dias o pressentia lá ao longe, a espreitar. Mas por isto ou por aquilo, não tinham coragem de aparecer assim de forma tão explícita.

Ela. A falta dela. A espera. Desde aquele dia do ”Até logo”. Não sabia que era até sempre. Não. Não vai ser até sempre. Um dia ela volta. Eu sei. Uma mãe volta sempre.

26 julho 2011

7 anos

comemorados ontem. Uma menina grande. Ontem foi o dia dos sorrisos, das gargalhadas, dos gritinhos, gritos e gritaria infernal. Que a alegria quer fugir pelas cordas vocais. Que a felicidade aparece em saltinhos. Um dia em cheio longe de mim, quando ao final da tarde chega, vinha com um sorriso enorme. A noite com meia duzia de gente foi plena. No sábado a festa grande. Pensada e preparada por ela. Dias e dias a pensar nos pratos, na decoração, nos convidados. Uma excitação desde que entrou nos mês do aniversário. Uma animação continuada dias a fios, porque a festa é no penúltimo dia do mês. Muita gente convidada, amigos, família, colegas de escola. Feita no melhor sítio do mundo para ela. Há um cartaz, feito por ela, que diz: não fique muito tempo no mesmo sítio porque as formigas picam. A festa da Carolina que já sabe ler e escrever, fazer contas no papel, nos dedos e de cabeça. A festa da Carolina que já entrou para a escola e que levava e trazia todos os dias na mochila a responsabilidade.
A Festa da Carolina que não gosta de Barbies, de princesas ou fadas. A festa que comemora os melhores 7 anos de sempre da minha vida porque são:
7 anos dela

02 junho 2011

Dia da Criança

E cada vez que te olho, reparo em ti. Cada vez que te cheiro o cabelo, acalmo os pensamentos. Cada vez que te vejo dormir, sinto a força e a esperança. Força para continuar a viver o melhor de mim. A tentar ser uma melhor pessoa. Por ti. Para ti.
Espero que um dia percebas o que ainda não te posso contar, nem sei se irei contar. Espero que um dia sejas uma Mulher com M dos Grandes. Como tu já sabes: "a liberdade é respeitares os outros para te respeitares a ti, não é mãe? Isso é a liberdade".

A tua alegria é contagiante. As gargalhadas que só nós trocamos fazem-me acreditar em ti. Em nós. Penso em ti todos os dias. Orgulho-me de ti todos os dias. Desde o tempo em que nem te conhecia a cara. Não sabia que ias ter o meu nariz. Não calculava que irias ter as minhas covinhas. Sabemos os duas rir de nós. Sabemos as duas interromper o choro para desatar às gargalhadas depois do banho. Sabemos as duas que tu vais longe: bombeira, veterinária ou modelo. Tanto me faz. Só quero que sejas feliz. E sumo na vida da Carolindeza Maior...feliz dia da criança todos os dias...

10 dezembro 2010

tanto mais


foste chegando devagar à minha vida. De repente já lá estavas. Já fazias falta quando não estavas. Já precisava de falar. De nada dizer. Só de saber que ali estavas. Uma amizade sem juízos de valor. Sem exigências. Sem recriminações. Uma amizade destas quer-se para a vida. Muitas gargalhadas, muitos sorrisos e algumas dores partilhadas. Que um amigo queremos perto. E a ti vou-te querer para sempre perto. Eternamente. Um amigo e tanto, mas tanto mais.