24 abril 2009

A propósito do 25 de Abril: um poeta de Abril

O Futuro - José Carlos Ary dos Santos


Isto vai meus amigos isto vai
um passo atrás são sempre dois em frente
e um povo verdadeiro não se trai
não quer gente mais gente que outra gente
Isto vai meus amigos isto vai
o que é preciso é ter sempre presente
que o presente é um tempo que se vai
e o futuro é o tempo resistente

Depois da tempestade há a bonança
que é verde como a cor que tem a esperança
quando a água de Abril sobre nós cai.

O que é preciso é termos confiança
se fizermos de maio a nossa lança
isto vai meus amigos isto vai.

22 abril 2009

obrigada

pelo almoço bom!
Por ouvires e não criticares. Por compreenderes. Por estares mais acima de tudo e de todos. Beijos muito grandes, para uma amiga maior

PS: ah e obrigado pelo vestido, claro ;)

18 abril 2009

amo-te


Anos

passaram depressa, a correr. Fui vivendo com pressa de crescer. Vou andando devagar com medo de envelhecer mais. Recosto-me num cadeirão, puxo a velha manta para os joelhos. Olho pela janela. Passaram depressa os anos. Passaram depressa 3 crianças lá fora. Passamos depressa.
Empurro os óculos pelo nariz, e deixo escapar um breve sorriso. Lembro-me da primeira vez que me viste de óculos. Passaram depressa os sorrisos. Passaram depressa os anos. Passaste depressa pela minha vida. Pela nossa vida. Cinquenta e poucos anos. Lembro-me de ti de flores. Lembro-me de ti na lambreta. Passeávamos depressa, queríamos chegar depressa à nossa casa. Fomos vivendo com pressa de crescer. Vieram os catraios. Corríamos depressa por eles, com eles. Saíram de casa depressa os catraios. Também viviam com pressa de crescer. Os anos. Há poucos que aqui estou sozinho. Passam devagar os anos, sozinho, a lembrar as tuas flores. E a tentar ver os catraios que quando passam por aqui, é sempre a correr.
Lembro-me de ti. Outra vez com a menina ao colo. Lembro-me de ti a chorar a escolher os feijões. Lembro-me de ti cansada, deitada com as mãos enrugadas. Passaram por ti depressa os anos. mas eu só me lembro do teu vestido de flores.

pequenos delírios domésticos (de outros)

Lá em casa, minha amiga
(deixe que lhe diga)
ele abre a boca, eu dá-me o sono
só gostava que nos visse
aquilo é uma molenguice
aquilo anda muito morno
eu bem tento pôr ao lume
mas depois, como é costume
vai-se o fogo e vai-se o gaz
volta-se ao mesmo marasmo

Eu bem ponho lingerie, oh oui
dou-me ares de Mata-Hari, vê-de
faço pratos e petiscos
noz-moscada, corro riscos
faço riscos na parede
a prisão é na cozinha
e a capela no chuveiro
e na cama há um canteiro
onde as flores não têm luz nem cor

Se eu lhe contar um segredo
(a medo...)
fico mais desabafada
no outro dia ouvi a chave
a rodar lá pelas nove
e fingi-me desmaiada
vê-me uma reles beijoca
se isso é que é o boca-a-boca
não vou querer que mais ninguém me salve

É certo que me distraio, saio
como p´ra longe do mundo
subo à torre, toco o sino
e num belo submarino
vou até bater no fundo
depois venho respirar, o ar
que me coube nesta vida
volto ao ponto de partida
são quase horas de ele querer jantar

Ai, amiga, se eu chegasse (ah, se...)
ao momento da verdade
dizia-lhe assim à bruta:
"Mata-ratos e cicuta
tomarás em quantidade"
a hora do telejornal
era o momento ideal
tanta guerra e tanta fome
e o meu crimezinho incólume

Deixava-o morto e sentado, de lado
com as mãos ainda ocupadas
numa o controlo remoto
e na outra o totoloto
em ambos as unhas cravadas
ia comprar espumante, ante
a surpresa do merceeiro
que malicioso e matreiro
perguntaria: "a quem vai brindar?"

Sérgio Godinho

17 abril 2009

hoje

acordei com isto na cabeça:

Clandestino, Deolinda

a noite vinha fria
negras sombras a rondavam
era meia-noite
e o meu amor tardava

a nossa casa,
a nossa vida foi de novo revirada
à meia-noite
o meu amor não estava

ai, eu não sei aonde ele está
e à nossa casa voltará
foi esse o nosso compromisso

e acaso nos tocar o azar
o combinado é não esperar
que o nosso amor é clandestino

com o bebé, escondida,
quis lá eu saber, esperei
era meia-noite
e o meu amor tardava

e arranhada pelas silvas
sei lá eu o que desejei:
não voltar nunca...
amantes, outra casa...

e quando ele por fim chegou
trazia flores que apanhou
e um brinquedo pró menino

e quando a guarda apontou
fui eu quem o abraçou
o nosso amor é clandestino

eu

às vezes só olho para o meu umbigo.

hoje soube-me a pouco

e foi assim.

07 abril 2009

Modéstia

cada vez tenho menos. E paciência também. Farto-me depressa da falsidade, hipocrisia e cinismo inerente ao trabalho. Pouca paciência, pouca modéstia. Porque às vezes acho que sou mesmo diferente disto tudo. De pessoas que vivem a vida, a vidinha. A coisa pequena, a cabeça baixa a olhar para o umbigo. O sorriso falso que só revela que não se importam com os outros. Falta-me a paciência e falta-me a modéstia. Quero ser diferente destes, pelo menos quero pensar que consigo ser melhor.

Flores



A primavera inspira. Vou ficar cheia de flores.
Por isso tenho ideias a mil. Flores na cabeça. Ideias floridas. Vontades floridas, diferentes. Do cinzento dos outros.
Flores na cabeça