30 agosto 2005

25 de Julho de 2004 – Olá Carolina, Olá!



Estavas há já 40 semanas no bem bom da minha barriga. Sabias perfeitamente quando e a quem te mostrares: danças intermináveis que faziam o espanto de quem olhava a minha barriga enorme. Aliás toda eu enorme.
Quando engravidei, fiquei logo com cara de grávida: lábios grossos, cara inchada...e manchas em toda a cara. Não enganava ninguém, a barriga e as ancas apareceram logo a dizer estamos aqui prontas para o que der e vier.
E estavam realmente prontas para a Carolina. A mãe queria uma menina, e a tia Rita também, mas entre primas e bisavós houve apostas e promessas de anéis. O Pai dizia que lá vinha um rapaz apoiado pelo avô; o Bisavô pensava que era desta (uma filha que já lhe tinha dado duas netas....era agora, era só podia ser agora!)
Mas não, quando o médico que fez a Ecografia disse que aparentemente estava tudo bem, e que sim senhora era uma menina, a tia riu-se do pai com um ar triunfante. E o bisavô ao telefone desabafou um ora-bolas-ainda-não-é-desta. Mas ficou a saber que ias ter o nariz abatatado e arrebitado da mãe (genes transmitidos pelo bisavô).
Os dias foram passando, e tu foste crescendo....e eu também. Roupa, berço, alcofa, carrinho, fraldas, chupetas, biberons, tudo em casa estava pronto para a tua chegada.
Às 38 semanas os médicos acharam que tinham que dar uma ajuda para te lembrar que estava na hora de conhecer o que se passa cá fora.
E então lá íamos nós 2 vezes por semana para os “toques”....e depois andar muito, muito, muito. Lá andávamos nós no Centro Comercial para estarmos no ar condicionado que os dias eram muito quentes. E à noite íamos passear o Gaspar no bairro, para andarmos, andarmos, andarmos....Claro que embalavas no sono e só acordavas quando me ia deitar.
Estava previsto nasceres a 24 de Julho, e realmente às 6:45 do dia 24, lá acordaste a mãe...Tinhas furado qualquer coisa e inundei a cama. O pai nem acreditava, pensava que era a brincar. E as dores? Nada! Nadinha.
Lá fomos nós para o Hospital, avisámos a prima que tinha dado toques e feito todas as ecos. Era um sábado, a avó não tinha boleia e lá foi ela de táxi para o Hospital para ser uma das primeiras a ver-te, também a enganaste.
A mãe lá foi arranjada pelas enfermeiras, que diziam que ainda faltava. Passámos o dia inteirinho lá. Nós as duas...tu calma, calminha, já não andavas nas danças, e eu a pensar que devias ter arrependido...
Mas lá para as 8 da noite lá deram umas coisas para apressar a menina que não estava pelos ajustes.
À meia noite andávamos nós nos corredores, a mãe agarrada ao “bobi” e tu a descansares....
Às 4 e tal da manhã, as dores estavam a ficar muito perto do insuportável e resolvemos chamar as enfermeiras que diziam, ah ainda não está com cara disso. Como se a minha cara falasse por ti. Mas a cara engana...e lá viram que já se podia dar um remédio para não sentir essas dores. Lá fomos nós....e depois foi esperar. A prima ia telefonando para as enfermeiras para saber como estavam as coisas. Mas ainda faltava. A mãe mandava mensagens ao pai....até que telefonou e disse, vem. O pai lá foi tão atarantado que estragou o pára-choques do carro. No dia a seguir o pai conseguiu avariar um carro emprestado, também. Mas nesse dia 25, lá esteve o pai com a mãe...e quando estavas mesmo quase a vir ao mundo, apareceu a prima! Surpresa boa!
E finalmente às 15:45 conseguiste sair!!!! A prima e a enfermeira diziam força: deram o jeitinho, e a mãe puxou-te pelos braços para dar a ajuda final. O pai, corajoso, pegou na tesoura e cortou o cordão que nos unia. E chorou...Mas tu choravas mais alto!
Mas mal te puseram em cima da minha barriga, ainda suja, cheia de coisas da mãe e coisas tuas, ficaste muito séria e caladinha a olhar para mim.
E eu olhava e não pensava. Só saía Olá Olá...princesa!
Levaram-te para os aposentos das princesas para te lavarem e vestirem. E depois, à socapa, a prima abriu a porta e mostrou-te aos avós. São aquelas fotos de avós de primeira viagem...a babarem contigo ao colo.
A mãe demorou muito tempo a ser arranjada....e quando te puseram a mamar, não querias sair. As visitas todas que tinham chegado, só nos puderam ver no corredor, e tu ainda a mamar! Os avós todos lá estavam, as tias, os primos.
E lá fomos nós as 2 para o quarto morrer de calor. Eras a maior do quarto: 3420Kg e 50 cm..
E eu fiquei não sei quanto tempo a olhar para ti a dormir, com os olhos cheios de água (muita água....) e a dizer: Olá Carolina, Olá! Olá bebé, Olá!


6 comentários:

Anónimo disse...

A bebe e agora a menina mais linda do mundo, com a MÃE mais linda...
Não vale fazer o pai chorar.....

Anónimo disse...

PARABENS!!!

Parabéns pela filha linda que tens... já lá vai algum tempo k não falamos mas depois de ler este teu "testemunho" só tenho uma coisa a fazer, dar-te os parabéns e muitas felicidades pra ti e para a Carolina..... Até um dia..
Beijinhos Vera

Anónimo disse...

Simplesmente Maravilhoso!!!!

Não há nada como saber expressar aquilo que se sente... um amor tão bonito e verdadeiro.

Tenho a certeza que a Carolina um dia mais tarde vai adorar ler este texto e tal como eu não vai conseguir segurar a lagrimita.

Bjs da Tia Custosa

MF disse...

Obrigada pelos comentários :)


Mas foi uma verdadeira surpresa ler o que li. É bom saber que apesar de haver momentos dificeis e mal entendidos na vida das pessoas, há outros em que o que há de bom vem ao de cima. E só aí se vê as verdadeiras Cores de cada um de nós. Essas cores tapam as Dores passadas!
Obrigada, Vera!
Quem sabe um dia não pegas na Carolina ao colo e lhe contas as historias secretas de um tal cabaret...

Quanto à Tia Custosa...Um dia sou eu que vou pegar ao colo do futuro "custosozinho" (nos 2 sentidos...) e contar a mãe fantástica que tem. Uma amiga de mão cheia que sabe ouvir e teclar como ninguém...1 beijo de obrigada por aturar a fase negra das Dores.

Quanto ao pai...só lhe peço para ir apagando os fogos....um dia também tu vais ver as tuas cores....quanto às dores estão guardadas, tapadas, a tal pedra...

Beijos!!!!!

Anónimo disse...

muito bem escrito e sentido sempre me surpreendeste. desde pequena!
a nossa caroca merece tudo. tu martucha tb. prometo não teclar muito mas tenho um grande orgulho na marta pinto ferreira, viva a luisa!

Eduarda disse...

Olá

Realmente este texto foi muito bem escrito, até eu derramei uma lágrima.
MUITAS FELICIDADES

Eduarda e Diogo