18 abril 2009

Anos

passaram depressa, a correr. Fui vivendo com pressa de crescer. Vou andando devagar com medo de envelhecer mais. Recosto-me num cadeirão, puxo a velha manta para os joelhos. Olho pela janela. Passaram depressa os anos. Passaram depressa 3 crianças lá fora. Passamos depressa.
Empurro os óculos pelo nariz, e deixo escapar um breve sorriso. Lembro-me da primeira vez que me viste de óculos. Passaram depressa os sorrisos. Passaram depressa os anos. Passaste depressa pela minha vida. Pela nossa vida. Cinquenta e poucos anos. Lembro-me de ti de flores. Lembro-me de ti na lambreta. Passeávamos depressa, queríamos chegar depressa à nossa casa. Fomos vivendo com pressa de crescer. Vieram os catraios. Corríamos depressa por eles, com eles. Saíram de casa depressa os catraios. Também viviam com pressa de crescer. Os anos. Há poucos que aqui estou sozinho. Passam devagar os anos, sozinho, a lembrar as tuas flores. E a tentar ver os catraios que quando passam por aqui, é sempre a correr.
Lembro-me de ti. Outra vez com a menina ao colo. Lembro-me de ti a chorar a escolher os feijões. Lembro-me de ti cansada, deitada com as mãos enrugadas. Passaram por ti depressa os anos. mas eu só me lembro do teu vestido de flores.

1 comentário:

Rogerio R Ferreira disse...

quem escreveu isto, assim bonito?