14 setembro 2008

Namorados

Os namorados devem estar sempre juntos, disse ela, do alto dos seus nove anos. Aos nove anos já sabe o que são as agruras do amor. Pelo menos dois meninos da sala foram desgostosos para casa. Precisamos de dar um tempo, “e eu, já não era capaz de estar com eles”. Foi ela quem o disse, uma vez. Às tantas parecia que eu estava a ouvir um dos desabafos das minhas amigas, mas estas na casa dos 30. Porém, também ela já tinha sofrido com os amores. Um menino, já com 10 anos, muito próximo dos 11, fez com Madalena este verão ficasse com o coração pequeno.
Na praia, e depois de lhe roubar um beijinho, disse: sabes, as miúdas como tu não são para mim. Não percebes nada de futebol, e eu vou ser um jogador de sucesso. Não posso perder tempo contigo. E assim acabou mais um namoro de verão. E assim começou o primeiro desgosto de amor de Madalena. Durou pouco. Ela sabe que, pela experiência da mãe, os namorados e os homens na vida das mulheres são fugazes. Aliás, ela nem sabia muito bem do pai. Achava que tinha um, lembrava-se vagamente de estar com ele, mas segundo lhe diziam sempre, estava a viajar. A mãe não gostava nada de falar sobre ele. Fazia má cara e acabava sempre com um ar de dores de cabeça. Aprendeu, assim desde cedo, que os homens são voláteis. Podem estar como deixar de estar. Podem viajar e se perderem nesses mundos estranhos. Era como os namorados da mãe. De início faziam-na feliz: maquilhava-se, comprava imensa roupa, sorria muito. Ia passear com ela, oferecia-lhe mais guloseimas que o normal, e às vezes ignorava que era necessário comer sopa. Passado uns tempos, a mãe ficava com cara de dores de cabeça. E às vezes à noite Madalena achava que a ouvia chorar no quarto. Era nessa altura que a mãe se fechava na casa de banho. Falava alto, gritava. Madalena já sabia, estava na altura da mãe trocar de telemóvel, pois normalmente partia-os quando os atirava ao chão, de enervada que ficava com aquele namorado.
Aos 9 anos já se sabe muito. E Madalena sabia que chegava a altura de ir para casa da avó por uns dias. Lá havia chá, bolinhos e alguma tranquilidade. Pouca, mas mais que lá em casa. Pensava ela que era porque lá havia um homem, sempre um homem a quem ela chamava de avô. Este era o homem da vida dela, parece que também deixava a avó doida. Aliás, toda a gente deixava a avó doida. A avó, de vez em quando desaparecia e ia para a casa da praia. Sozinha. Sem homem. Para não ficar doida.
Madalena ficava com o avô, que tentava ensiná-la a jogar xadrez. A mãe, recomposta, vinha buscá-la para casa. Voltava, então, a sopa, o horário espartano. E Madalena pensava: os namorados devem estar sempre juntos.

2 comentários:

Anónimo disse...

muito bem escrito, o resto do comentário é mto pessoal.
mas como ninguém colocava nada eu pimba

Rogerio R Ferreira disse...

vim aqui mostrar-me, eu é que quero aparecer