03 novembro 2005

I

Calçou os sapatos a correr e fechou a porta silenciosamente. Já era de manhã para ela, ainda não era para muita gente. A noite ainda estava presente. Para ela já era dia, sem o ser. Entrou no carro. Fez-se à estrada.

Na portagem a mesma pessoa. Nunca soube porque não tratava da via verde. Também não interessava: sempre falava com alguém. Sempre havia um bom dia e boa viagem. Parou na estação de serviço da auto-estrada. Era lá que bebia o seu café. Em jejum. Com as ideias ainda em jejum. Bom dia era uma bica. O segundo bom dia de hoje.
Para beber o café tinha que ser ali: os cafés do bairro e do emprego ainda estavam fechados àquelas horas.
Mais uma vez entra no carro e corre a estrada.

Chegou ao emprego. Um prédio de escritórios. Muitos. Entra e não vê o segurança. Mas que raio, onde se terá metido o Cândido? Não é muito normal. Espera pelo elevador. Espera. Continua à espera. No visor dos pisos mostra o número 7. Continua no 7. Há tempo de mais que está no 7. E o Cândido? Se ele aqui estivesse poderia dizer: mas que raio se passa com o elevador?
Resolve subir as escadas. É a ela que lhe cabe abrir a porta, ligar as luzes, preparar tudo para a chegada dos funcionários. Era desta que ia emagrecer. Subir até ao 10º andar iria dar para matar as calorias intrusas. Abre a porta de segurança e sobe, sobe. Vem-lhe à cabeça: Sobe a calçada, Luísa, Sobe a Calçada. Sorri. Pensa: tenho que deixar de fumar. Sorri. Pensa: Se alguém da empresa sonha que eu sei poesia tem uma coisa má. Sorri: saberá alguém lá da empresa poesia? São muito ocupados para isso. Muito gestores e doutores para isso.
Finalmente chegou ao piso dos escritórios. As luzes do piso estão acesas. Estranho. A porta do escritório fechada, mas lá dentro alguns gabinetes têm as luzes ainda, ou será já, acesas. Estranho. Faz a ronda: apaga o que tem a apagar, liga o que tem a ligar.
Senta-se no seu posto de trabalho. É mesmo à entrada, misto de telefonista/recepcionista, mas acima de tudo transparente para os gestores e doutores.
Lembra-se de ligar para o Cândido. Não atende. Estranho. Lembra-se de ir ao elevador verificar se ainda está preso no 7º piso. Confere: está preso no 7º piso.
Resolve ir lá abaixo. São poucos os lances de escadas.
As luzes estão acesas e consegue ver parte da porta do elevador: está aberta. Avariado, com certeza, avariado. Dirige-se para a porta, e à medida que vai andando sente as botas escorregarem. Mas que raio? Onde está o Cândido? Olha para a porta do elevador, o olhar descai até o chão. Afinal ali estava o Cândido. Deitado no chão, envolto numa poça de sangue e a porta do elevador a bater no ombro. Abria e fechava e batia no ombro. Pensou: mas que raio?


(continua....)

4 comentários:

Anónimo disse...

pobre candido....
temos soap blog?

Anónimo disse...

pobre candido....
temos soap blog?

Anónimo disse...

agatha? estás aí? ;)

Anónimo disse...

não é a gata é a cadela... do almoço