01 agosto 2005

Gorduras

A propósito de uma futura exposição de pintura que se vai centrar na questão da obesidade e sua aceitação/rejeição por parte da sociedade, fiquei a pensar no elogio à extrema magreza ( a quase anorexia, ou mesmo anorexia...) que actualmente é imposta. Aqui estão as Dores de algumas.

Mulheres Gordas

Só há uma altura em que se pode chamar gorda a uma pessoa do género feminino, sem, no mínimo, levar com um olhar reprovador: quando se é bebé. Pelo menos é uma alegria para qualquer mãe ouvir: “ai estão tão bem, tão gordinha, está mesmo boa!!!”
O caso muda de figura quando se vai ao pediatra que alerta para os perigos da obesidade nas crianças, deixando no ar a ameaça da dieta alimentar: “vamos ver como ela está na próxima consulta, e qual o comportamento quando começar a andar”. Senão: dieta, não queremos bebes gordos.
E pronto, a partir daqui entra-se na espiral do corpo magro. Se ainda fosse a do corpo são em mente sã... mas não, muitas vezes é roda eufórica do corpo de osso e pele. Pior ainda é quando este “ideal” persegue-nos em todos os lados: TV, rádio, revistas, jornais, Internet....
Mas há gente que é cada vez mais gorda: os chamados obesos. Que não podem ser felizes, ou melhor não devem ser felizes. Questões de saúde à parte....(quantos magros, dos muito magros são saudáveis?!)
A perseguição da magreza extrema é saudável? A realidade das gordas, das imensas carnes será assim tão deplorável? Haverá espaço para a felicidade?
Claro que sim, desde que se esteja bem com o seu corpo. Frase feita para pensamentos aconchegantes... Mas quem é que realmente se sente bem com o seu corpo? Não haverá sempre uma coisinha a tirar, a esticar, a esconder?
E estas imensas mulheres? Saberão encarar a vida de frente? Nós temos tantas e tantas defesas....crescemos a fabricá-las, mas tantas vezes também só crescemos quando destruímos algumas delas.
As magras que quase rangem ao andar estarão presas às gaiolas da fome voluntária? Às prisões do desejo do “corpo perfeito”? Serão verdadeiramente elegantes? Não será uma vida de sacrifícios em prol da “beleza”? Não serão estas eternas reclusas, presas a ideias e vontades impostas por uma sociedade das aparências? Não serão elas as verdadeiras Gordas?


Mentes gordas, untadas de ar. Pensamentos feitos de estrias, corações rachados de celulite. Olhar flácido, alma disforme. Mentes gordurosas mas com corpos de TV de umbigo à mostra. Mostra tudo! Corpos montra de nada, de ossos e peles. E a cabeça a pedir um recheio de chocolate abraçado por chantili.

2 comentários:

Anónimo disse...

A propósito deste tema "Mulheres Gordas", resolvi comentar aqui com a Das Dores, a minha própria Dor.
É que eu sou o gajo da exposição... sim, o pintor mesmo. E pintar não acalma, causa Dor, ainda para mais quando se pinta com uma intensão.
Ao pintar fico exaltado, enervado, liberto o que me vai na alma.
Suspiro, choro, riu-me... e outra pincelada preenche a imensa tela, exprimindo os sons que me entram pelos ouvidos e se mesclam com os sentimentos, passando pelo coração e escorrendo até à ponta dos dedos... "Habla con ella" acompanha-me nesta luta comigo mesmo.
E volto a chorar, a rir, vitorioso por ver o fruto de meses de conflito interno, de incertezas transpostas para o branco. E as cores, e as formas das dores, acalmam-me deixando-me mais. exaltado...

Ricardo Passos

P.S. Parabéns pelas tuas palavras Das Dores... Elas acompanham as minhas pinceladas!

Anónimo disse...

xiça, que familia lamechas!!
eheheh, tão bonitos os 2, quase que vos adivinho a aura!!!: bonita, como os donos!

:-D

mim conteinti

rita