19 agosto 2005

Antes só que mal acompanhada

E assim foi. Passou por entre a multidão e olhou para todos os pés que esmurravam o chão. Gritou com os olhos à espera de um sorriso adiado. Chorou com as mãos numa dança de gaivotas sem rumo.
Mas era tarde: a tempestade já estava em terra.
Nem correr conseguia.
Nem fingir sabia.
Nem sonhar podia.
Nem um olhar, nem um soslaio, nem um sorriso, nem um esboço.
Era cada vez mais transparente para os outros. E tantas vezes, em outras tantas alturas da vida, que tinha desejado ser transparente! Tantas, menos agora. Todas, menos agora.
Agora queria um olhar, um sorriso uma palma de mão.
Era tanta gente e ninguém olhava, e ninguém perguntava, e ninguém sorria e ninguém se importava.
Era agora que o telefone devia tocar, era agora que os convites rejeitados deviam chegar, era agora....
E de certeza que nada iria acontecer, porque se o telefone tocasse não ia atender; se o convite adiado viesse, ia-se esconder.
Mas era preciso uma mão, era preciso um ombro, era preciso um olhar, era preciso....
Para suportar a dor, a solidão, o nó na garganta, cada vez maior, cada vez mais quente, ardente.
Tentou respirar fundo, mas o ar não ajudava, o peito fechava-se.
“Olha para o céu, que é sempre calmo e relaxante, estupidamente bonito”, costumava alguém sussurrar ao ouvido. Mas hoje, agora, não estava ninguém, nem ia estar....nunca mais....eu não deixo, nem quero. Antes este nó na garganta e o peito apertado que a incerteza no olhar, nas mãos, no coração.

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